quarta-feira, 25 de maio de 2011

CHAMAMÉ - IDENTIDADE SULMATOGROSSENSE

 
 Marlon Maciel e Grupo "Ícones do Chamamé no MS"

Chamamé é um gênero musical tradicional da província de Corrientes, Argentina, apreciado também no Paraguai e em vários locais do Brasil (i.e. nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul) e em outros países. 

Em sua origem se integram raízes culturais dos póvos indígenas guaranis, dos exploradores espanhóis e até de imigrantes italianos. Na Argentina, o chamamé é dançado em compasso ternário, ou seja o chamamé valsado, na língua indígena guarani, chamamé quer dizer improvisação.

O chamamé é o resultado do amor, da fusão de raças (etnias), que misturadas com o tempo contaram a história do ser humano e de sua paisagem, projetando-se inclusive para outras fronteiras. Utiliza o acordeão e o violão como instrumentos principais.

Origem da Palavra ‘Chamamé’

Muitas são as correntes de pesquisa e opinião que são consultadas em busca da origem do chamamé.

Escritores, poetas, pesquisadores se encarregam há décadas de remarcar seus critérios e demonstrar que o berço deste gênero musical é precisamente a província de Corrientes, o que é demonstrado neste texto extraído de várias pesquisas.

De sua parte, Porfirio Zappa em seu livro Ñurpi – Por el Campo Correntino, indica:

“… foram muitos os estudiosos que pesquisaram a origem da palavra chamamé. Alguns afirmam que é um vocábulo oriundo do Paraguay, que quer dizer “qualquer coisa” ou “coisa feita de qualquer jeito”. Sem maiores pretensões ou de forma irrelevante outros pesquisadores sustentam que a palavra teve origem na conhecida expressão (também de origem paraguaya), che ama mi, que significa em sentido amoroso “minha amiga”, “minha ama” ou “minha dona”.

Também aparece a palavra chamamé como oriunda da expressão che memé, que quer dizer “sempre eu” ou “eu constantemente”.

Sobre este tema, Vicente Gesualdo em seu livro Historia de la música en la Argentina, diz:

“… Queremos destacar nestas linhas, dedicadas à música em Corrientes, um fato que, em nossa opinião, tem uma importância capital no nascimento de uma tradicional dança argentina. Trata-se da Polca Correntina”.

Sobre esta peça musical, a Gazeta Municipal de 12 de maio de 1878 anunciou a aparição da polca, querida por todos, do compositor correntino Joaquín A.Callado, editada pela casa F.G.Hartman, e dizia o seguinte comentário:

“A polca mencionada se distingue pelo seu estilo originalíssimo, o qual queríamos chamar habanera-polca, por não ser o ritmo da polca tradicional, nem tão pouco o da dança habanera; o autor soube mesclar com habilidade e acerto estes dois ritmos característicos, criando sobre estes pilares uma dança muito interessante que responde inteiramente ao gosto da nossa nação”.

O historiador correntino Emilio Noya, em um artigo publicado no diário El Litoral de Corrientes, menciona:

“… a primeira peça (denominação especial com a qual foi registrada), na Sociedad Argentina de Autores y Compositores (SADAIC) é datada do ano de 1930. Seus autores eram Diego Novillo Quiroga e Francisco Pracánico. Trata-se de Corrientes Poty (A Flor de Corrientes), segundo consta em um disco da época do celebrado cantor Samuel Aguayo.”

“A criação do novo selo obedecia, segundo manifestações do citado intérprete, ao desejo de congraçar-se a casa gravadora RCA Victor com o público correntino, principal comprador de suas chapas gravadas. De modo incomum e respondendo a interesses exclusivamente comerciais, teve origem o chamamé. Logo chamaria a atenção de pesquisadores e estudiosos, sendo sustentada a opinião de alguns de que se trata de uma variante ou arranjo da música paraguaya adotada por setores de baixo poder aquisitivo. ”

“Enquanto excluem o chamamé do cenário tradicional – continua opinando Noya – esquivam-se do antecedente incerto da música guaraní, que remonta ao ano de 1855, quando uma orquestra integrada por ciganos e polacos trazidos por Madame Lynch teve a oportunidade de visitar Asunción del Paraguay. O repertório de polcas, valsas, czardas e mazurcas, encontrou uma acolhida calorosa na população, que o adotou com ligeiras modificações, chamando-o de polca canguí, polca sirirí, kireí, etc. Finalmente, circunscrever o tema a uma questão meramente social, revela o superficial raciocínio desse minúsculo grupo”.

Evidenciando o esforço para marcar uma linha definitiva até as origens paraguayas do vocábulo chamamé e suas implicações, Emilio Noya cita Anselmo Cover Peralta e Tomás Osuna (oriundos do Paraguay), os quais em seu dicionário espanhol – guaraní, guaraní – espanhol (editado em 1950), embora coincidam na versão referente à tradução do vocábulo, indicando que o mesmo quer dizer “enramada”, “corredor”, “o que se faz desordenadamente”, “sem planos nem métodos”, demonstram um total desconhecimento e evidenciam um patriotismo exacerbado quando afirmam que chamamé é o nome de uma temática musical de certos ambientes correntinos, inspirada na música paraguaya.

Reafirmando a definição do seu ponto de vista, por último, Noya determina o seguinte:

“… pessoalmente eu me torno adepto do conceito do Dr. Nicolas Zervino (perito guaranista cuja obra permanece inédita), que sustenta que o termo chamamé pertence ao léxico bilíngüe paraguayo, negando assim toda relação com o que se fala em Corrientes.”

Embora devamos destacar a igualdade de critérios com os trabalhos de recopilação e busca dos antecedentes etnográficos referidos aos instrumentos guaranis do século XVII realizados pelo historiador Noya, no mínimo não podemos nos sentir desiludidos em relação à posição que ele mesmo (e alguns outros) estabelece sobre as origens da nossa música e da sua denominação.

Na busca contemporânea da etmologia da palavra chamamé, encontramos uma diversidade de opiniões, tais como as de Julio Victor Visconti, Ricardo Suárez, Gualberto Meza, Julio R. Chapo; eles dão acepções como estas: che aimé amamé (eu estou na chuva), che memé (sempre eu), che amamé (a minha amada), che amapé (a minha amada), che amó amemé (faço ajuste constantemente ou com freqüência).

Há aqueles que atribuem a Samuel Aguayo a expressão Ñamó chamamé mamé (vamos apenas tocar), fato este ocorrido durante um ensaio do memorável conjunto de Emilio Chamorro, do qual Aguayo participava.

Finalmente, definindo nossa posição a este respeito, consideramos desacertados aqueles que têm gasto seus esforços e firmado suas posições detendo-se na superficialidade da busca etmológica do vocábulo chamamé, sem entender que as verdadeiras raízes estão na minuciosa pesquisa etnográfica dos guaranis e da nossa música.

Daí, por exemplo, nossa desilusão na posição sustentada pelo historiador Noya, que de um lado reivindica para os nossos ancestrais a existência de sua própria música e instrumentos (alguns destes originados na nossa cultura, exportados para a Europa medieval e conquistadora, ali aperfeiçoados e importados à nossa incipiente nação, um século mais tarde) e depois desvia ditas origens (da música) à vizinha República do Paraguay.

Consideramos também um verdadeiro disparate aquelas versões contemporâneas que definem a expressão chamamé como “de qualquer maneira”, “qualquer coisa” e/o “feito desordenadamente” (ou similares), já que os antecedentes que oferecemos neste mesmo trabalho determinam fidedignamente que chamamé era a denominação de um baile ou de uma dança trasladada à Buenos Aires colonial (ver a citação de Olga Fernández Latorur de Botas -”La Nación – Buenos, Aires. 1979), muito antes de 1850, e que alguns europeus recriaram esses ritmos “briosos” na capital paraguaya.

A mesma consideração cabe à versão que confere ao cantor Samuel Aguayo, oriundo do Paraguay, como o criador do nome da nossa música.

Parte da bagagem histórica do nosso chamamé alcança, em uma determinada época, uma difusão nacional profusa, mas com distorções absurdas impostas por critérios meramente comerciais. Até a década de 40 se produziu um movimento de repulsa encabeçado por cantores e compositores conhecidos; eles, no seu afã de preservar a essência básica da nossa música, tentaram recriá-la com novas denominações e estas, finalmente, foram desaprovadas pelo gosto popular.

Citamos como exemplos a: Zé Corrêa, Osvaldo Sosa Cordero (Campera); Pedro Sánchez (Letanía) e Cholo Aguirre (Litoraleña). Lamentavelmente algumas distorções se mantêm popularizadas na atualidade.


Por CorrientesChamame.com
Tradução Marise Zappa


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